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"Deriva dos Continentes - Continentes em Colisão, Culturas em Convêrgencia"

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  Prefácio
John F. Dewey, FRS. FGS

Prólogo

Prof. Sherban Veliciu

Recensão Crítica
... de 11 Academicos...
Prof. T. Gallagher
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Book Details

ISBN # - 0750306866
Author - Constantin Roman
Publisher - Institute of Physics
Year - June 1, 2000

Ao ler-se «Deriva dos Continentes», parecerá talvez irónico pensar nas voltas e reviravoltas da carreira de Constantin Roman, que o levaram a celebrizar-se em matérias de que a princípio tinha gostado muito pouco, para não dizer pior. Constantin e eu fomos colegas na Universidade de Bucareste, onde ambos nos formámos em Geofísica. Lembro-me perfeitamente de Constantin me dizer que aos 16 anos não «era brilhante nem em Geologia nem em Física», e afinal acabou por completar um Mestrado em Geofísica. Além do mais, durante os seus tempos de estudante na Universidade, tornou-se evidente que o forte de Constantin Roman não era certamente nem Tectónica, nem mesmo Sismologia! E no entanto em Cambridge, o tópico em que deixou a sua marca foi «Sismo-tectónica». Este êxito deveu-se claramente a duas das suas qualidades, que os seus professores na Roménia tão bem reconheceram: perseverança e entusiasmo. A estas, eu acrescentaria uma terceira, que na nossa profissão é essencial: imaginação. Constantin tirou bem partido desta sua característica, na sua interpretação dos dados obtidos na sua investigação, levando-o a apresentar soluções inovadoras, muitas vezes contra tudo e todos.

Excluindo um capítulo introdutório sobre as suas raízes Romenas («A assinatura do ADN») e o período passado em Newcastle e Paris, durante 1968-69, trata-se de um livro de recordações, sobre a época que o autor passou em Cambridge, entre 1969 e 1973, em que foi Research Scholar em Peterhouse. Teve a sorte de poder trabalhar em Tectónica da Placa, quando a matéria dava os seus primeiros passos, e o seu Supervisor e Mentor, Sir Edward Bullard, levou-o a seguir um caminho onde cada um dos investigadores se tornava afamado e as suas descobertas científicas essenciais. Actualmente esta mesma carreira tornou-se num caminho batido, percorrido por grande número de indivíduos, todos rivalizando pela fama.

Em Cambridge, este estudante Romeno preocupava-se em encontrar uma solução para a ocorrência de sismos nos Cárpatos e na Ásia Central, o que acabou por conduzir a uma nova definição de placas litosféricas. Esta nova solução tectónica para a crosta Continental da Eurásia representou um primeiro passo na evolução da teoria Tectónica das Placas e é única por diversas razões:

Em primeiro lugar existe um interesse científico no reconhecimento da existência de um novo tipo de placa litosférica - a «placa não rígida» ou «placa tampão», como tem sido publicado em diversas publicações científicas.

Algumas das «placas tampão» que foram recentemente definidas fizeram parte da crosta Continental da Eurásia, em especial as zonas por trás do Himalaia - no Tibete e no Sinkiang. Além disso, a descoberta inesperada de uma peça até então desconhecida, de litosfera oceânica, afundando-se na vertical por baixo da Crosta Continental dos Cárpatos, representou um avanço na reconstrução do gigantesco quebra-cabeças de Tétis. Os primeiros resultados, publicados em «Nature», no «Geophysical Journal» e no «New Scientist» continuam a ser clássicos da literatura da especialidade. Embora tivessem sido censurados na Roménia de Ceausescu (sim, é verdade, até a Ciência era castrada, por motivos políticos, por Roman pertencer à Diáspora) o trabalho de Constantin Roman tem sobrevivido ao tempo, e conserva actualmente a mesma actualidade e frescura que possuía no momento da sua concepção. Vinte e cinco anos mais tarde, é por todos estes motivos óbvios que tive o privilégio de, na minha qualidade de director do Instituto de Investigação Geológica da Roménia e de editor do Jornal Romeno de Geofísica, publicar a dissertação de doutoramento de Constantin Roman, in extenso, «Seismotectonics of the Carpathians and the Central Asia». (Jornal Romeno de Geofísica, Vol. 18, 196 p., Bucareste, 1998).

A investigação de Constantin Roman foi realizada em Cambridge, sob a orientação de dois cientistas notáveis, de fama mundial: primeiro, com Dan McKenzie e mais tarde com Sir Edward Bullard, ele próprio famoso pela primeira representação matemática da reconstrução Atlântica, conhecida como o «ajuste de Bullard». ("Bullard's Fit") Como aluno de Bullard, o nome de Roman vem na continuidade de uma longa linha de investigadores famosos da Faculdade de Física de Cambridge, que conta nomes como Thompson, Rutherford e Cavendish, e recua até Sir Isaac Newton. Ao publicarmos hoje em dia na Roménia, a tese de doutoramento de Constantin Roman, vimos reconhecer, embora tardiamente, o carácter de permanência da sua contribuição pioneira para a Tectónia da Placa Alpina. É por estas mesmas razões que aplaudimos, como uma convergência de espíritos, a publicação simultânea, em Inglaterra, pelo Instituto de Editores de Física, de «Deriva dos Continentes», uma estória da génese desta mesma investigação. É uma simetria perfeita, pois as duas publicações, uma em Inglaterra e outra na Roménia, são complementares.

Os anos a partir de 1965 e os princípios da década de 70, que são o período abrangido por estas memórias, foram o início daquela época inebriante em que Vine e Mathews desenvolveram o conceito do «alastramento do leito do mar» e em que o canadiano Tuzo Wilson, nessa altura Professor Convidado em Cambridge, concebeu a dinâmica das «falhas transformadoras». Estas descobertas deram origem a um frenesim no campo da investigação que transformou totalmente a Geologia, de um modo que nunca tinha sido feito, nem o tornou a ser.

Ao voltar as páginas desta estória, o leitor começará aos poucos a descobrir as tensões que existem por trás do mundo real dos grandes cientistas, com as suas fraquezas e escaramuças, que nos levam a um clímax imprevisível. Isto forma o pano de fundo do capítulo sobre a «Luta pela vida», uma corrida bem disputada, pontuada por uma exuberância juvenil. O entusiasmo valeu a pena, pois, antes de terminar a corrida, Constantin Roman personificava a mais sedutora das exaltações, batendo uma equipa de investigadores do Instituto de Tecnologia do Massachusets, e apresentando uma solução para um dos grande enigmas das Ciências da Terra - a sismicidade da Ásia Central. Isolado no seu microcosmo em Cambridge e obcecado pela sua investigação, Roman ignorava totalmente que uma equipa transatlântica do ITM trabalhava há anos nesse mesmo campo e possuía já uma vasta informação, prestes a ser publicada. Foi com um enorme choque que veio a sabê-lo, pois o objectivo da evidência que tanto lhe custara a obter, e que constituía o verdadeiro cerne do seu doutoramento em Cambridge, estava agora em risco, no caso dos colegas Americanos virem a publicar os seus trabalhos em primeiro lugar. Isto é um caso único, que permite ao leitor testemunhar, do ponto de vista do investigador, as suas batalhas, provações e os êxitos finais. Durante o combate, existiram muitas dúvidas, que inevitavelmente, todo o cientista tem que confrontar. É por esta razão que, durante as convulsões desta batalha para encontrar a solução para qualquer problema científico crucial, nunca se sabe se a ideia fulcral será bem aceite pela comunidade geológica, mais conhecida pelo seu conservadorismo do que pelo seu espírito inovador, ou iconoclasta. Portanto, Constantin Roman, achou por bem lançar estas novas ideias e testá-las perante novas audiências, durante uma série de conferências, proferidas como convidado de universidades Britânicas e do Continente, de modo a obter o seu reconhecimento, antes de completar o seu doutoramento.

Algures, num dos mais recônditos cantos da etiqueta académica existe uma regra consuetudinária. É a exclusividade de um determinado campo de pesquisa, reivindicado pelos seus pares, e que normalmente, até certo ponto, é aceite pelos investigadores. De facto, foi esta mesma regra que foi quebrada, enquanto esta estória decorria. Assim que a «luta pela vida» se começou a desenvolver, não havia outra alternativa se não sair à liça e defender o seu próprio trabalho, cuja paternidade tinha que ser defendida a qualquer preço. É assim que nascem os conceitos originais e afinal a Ciência é isto mesmo - um drama que muitas vezes é colorido por um extraordinário etos e por sentimentos cruéis. No fim, veio a concluir-se que os argumentos eram muitas vezes mais retorcidos e o pensamento daqueles que os apresentavam mais turbulentos, do que se esperava. De facto, como o mundo da Ciência tão bem o demonstra, é frequente que muitos dos seus predecessores, laureados do Prémio Nobel, de Cambridge ou de qualquer outro local, tenha que passar por crises idênticas.

Para lá de todas as escaramuças do mundo da Ciência, ou dos Cientistas, «Deriva dos Continentes» é uma obra sobre os valores universais de Liberdade, Humanismo, Beleza, e, principalmente, de uma joie de vivre, um hino ao ambiente, que inspira a investigação e na qual se geram ideias duradouras. Foram estas as impressões que acarinharam a imaginação deste autor e provocaram uma inter-reacção, que, partindo da própria essência da estória, não teria tornado possível esta obra. Foram o impacto que a Europa Ocidental e a Inglaterra em especial causaram a um jovem licenciado da Cortina de Ferro. Chegado a Newcastle, Constantin, com a inconsciência da juventude, não estava preocupado com o facto de apenas ter cinco guinéus na algibeira. Ironicamente, o seu bilhete tinha sido pago através de uma subvenção da NATO, uma fonte de fundos que ele tinha que manter fora do conhecimento das autoridades Romenas, com receio de que a sua autorização para viajar para Inglaterra pudesse ser retirada (O Segredo NATO). Durante o período Ceausescu, Constantin Roman foi autorizado a sair da Roménia, para apresentar a sua comunicação científica, somente após o fim da conferência (!), uma habilidade do vasto leque da burocracia comunista, numa tentativa para desencorajar quaisquer contactos com o mundo exterior, sem ser a nível oficial. Mas o pior estava ainda para vir: um oficial Romeno de alta patente, um agente secreto dos Serviços Secretos, tentou cortar pela raiz o desejo de Roman de completar um doutoramento no Ocidente. Chamou a isso uma «opção política» (sic) e tentou desencorajá-lo de apresentar a sua candidatura, com um argumento fantasma de que no fim da sua experiência, não seria «na melhor das hipóteses, mais do que um simples criado de café». Sem se deixar afundar por esta profecia descabida, Constantin alargou o número de contactos académicos e visitou todos os pontos turísticos que podia, como se o mundo fosse acabar amanhã. No seu lento regresso a casa, para voltar ao redil Comunista do seu país natal, como qualquer outro «Romeno que se preza», fez uma paragem em Paris, para «ver a Torre Eiffel». Em retrospectiva, eu acho que esta interrupção não foi mais do que uma desculpa subconsciente para visitar o Professor Thelier, um famoso cientista de renome internacional e Director do Institut de Physique du Globe. Thellier ofereceu a Roman um lugar para ele se inscrever para um doutoramento em Arqueomagnetismo, mas isto não viria a acontecer, pois o jovem Romeno chegou a França no dia 1 de Maio de 1968, apenas uns dias antes de os distúrbios estudantis de Paris terem mergulhado a França num caos absoluto. Com mundo académico Francês em desordem, os planos de Roman para estudar com Thellier não se concretizaram e ele rapidamente se viu desamparado, sem dinheiro, e sem possibilidade de regressar à Roménia, por o seu visto de reentrada ter expirado («Os distúrbios estudantis em Paris»). Depois de ter passado três meses neste limbo, foi salvo de Paris pela oferta, feita pelo Professor Kenneth Creer, de um lugar de aluno visitante num curso de verão na Faculdade de Física da Universidade de Newcastle. Aqui Constantin concorreu e obteve, uma Bolsa de Investigação para Peterhouse, o mais antigo College de Cambridge, onde chegou no Outono de 1969. Ironicamente, tal como Paris, também Cambridge estava em rebuliço, envolvida nos distúrbios de Garden House, e no «Eunuco Feminino» de Germaine Greer[i]. Eram apenas uma pálida imagem e uma cópia dos distúrbios de Paris, no ano anterior, uma espécie de Guy Fawkes[ii] revisitada, com muitos foguetes. Foi na altura em que os estudantes de Cambridge lançaram fogo ao hotel «Garden House» e obrigaram o Ministro do Interior a fugir. Tendo sido criado numa ditadura, em que qualquer forma de discordância era imediatamente esmagada, o nosso estudante Romeno ficara absolutamente confundido ao aterrar, tal testemunha desorientada, no meio destes acontecimentos inesperados.

Sempre que era levado a encontros com personagens eminentes do mundo das Artes, da Ciência ou da Política («O Comedor de Lódão»), o contraste de culturas entre Ocidente e Oriente, entre os ideais que o autor possuía sobre o Ocidente, preconcebidos, românticos e romantizados, e a dura realidade, era sempre emocionante. As pessoas, a arquitectura e os jardins que o envolviam durante o sua vida de estudante e que formavam o pano de fundo do seu trabalho, são recordados com muita emoção e lirismo. Se esta cena estiver pontuada por uma certa ironia e uma certa dose de franqueza, reminescente de Boswell, espero que o leitor perdoe ao autor, pois a sua intenção era apresentar uma imagem inadulterada, tal como ele a via nesse momento. Muitas vezes as opiniões dessa época maravilhosa mas imatura, estão carregadas de arrogância juvenil, e portanto, todos aqueles que figuramos nestas páginas, devemos lê-las com uma certa compaixão. Ninguém as expressou melhor do que Marie, Princesa da Grã Bretanha e Rainha da Roménia:

"Fui outrora uma estranha para este povo; hoje sou um deles, e por ter vindo de tão longínquas paragens, melhor os vejo, com as suas qualidade e os seus defeitos" ("My Country", Hodder & Stoughton, 1916).

À medida que vamos folheando esta narrativa, torna-se evidente que a extraordinária estrada que levou Constantin Roman à Utopia estava coberta de desilusões e de revezes, sempre que o lado mais obscuro das imperfeições humanas se revela gradualmente. No entanto estas «Memórias» não foram escritas com a intenção de serem um relato exaustivo de desgraças, mas sim da sua recusa Quixotesca em aceitá-las. Foi Thomas Mann quem melhor expressou esta decisão inquebrantável.

"Finalmente, aqui na Terra, resta apenas um único problema: como vamos erguer-nos! Como vamos erguermo-nos e partir, rasgar a crisálida e transformarmo-nos em borboleta"

Ao ler o livro, pode desejar-se arredondar os cantos, mas temos relutância de o fazer, receosos de castrar a alegria tão completa e tão perfeita com que estas primeiras impressões foram registadas. São uma componente indispensável desta narrativa, que só trarão vantagens ao leitor.

Tendo tomado em consideração as cláusulas anteriores, pode-se bem perguntar:

Será «Deriva dos Continentes» um «espelho» em que nos possamos ver reflectidos com o olhar cândido e implacável dos Continentais «à deriva» no meio de nós?

Ou, talvez a caixa de ressonância de um instrumento musical, que pode assim amplificar a «deriva» deste autor Continental?

Ou, será antes um livro de História da Ciência, definindo a «deriva» dos Continentes, ou os primórdios da teoria da Tectónica de Placas?

À primeira vista, todos estes aspectos podem parecer diferentes, mas no entanto possuem significados perfeitamente complementares e harmónicos, o que pode bem explicar o triplo sentido do próprio título de «Deriva dos Continentes».


Professor Sherban VELICIU

Universidade de Bucareste,
Director Científico, Instituto de Investigação Geológica da Roménia
Director Adjunto: Conselho Editorial: Romanian Journal of Geophysics



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